Aconteceu hoje (30.9) o primeiro desfile assinado por Maria Grazia Chiuri para a Dior. A estilista se separou de Pierpaolo Piccioli na Valentino no dia 7 de julho deste ano para, no dia seguinte, ser confirmada como nova diretora criativa da maison francesa pela qual acabou de se apresentar, em Paris.
Em 70 anos de história, a Dior – fundada por um homem, o icônico couturier Christian Dior – sempre foi a grande representante do romantismo francês na moda, mas nunca teve uma mulher no cargo criativo mais alto da casa. Por isso, a expectativa para o desfile que aconteceu há pouco no Musée Rodin era alta.
Para mostrar a que veio, Chiuri já deixou tudo avisado no Instagram da grife. Antes do espetáculo, a etiqueta publicou um vídeo em que mulheres que trabalham na Dior falam sobre outras mulheres que serviram, ou servem, de inspiração para suas vidas. Uma delas, por exemplo, diz que Simone de Beauvoir é uma grande referência. Assim, já era de se imaginar que o desfile levantaria a seguinte questão: “o que é ser mulher?”
O primeiro look traz uma resposta imediata: é lutar. O coração valente bordado no peitoral matelassado vestido pela modelo Ruth Bell dizia isso. Depois dela, uma série de looks brancos namoravam com os uniformes de esgrima, tudo para reforçar esse argumento inicial.

Os coletes de escrima foram acoplados à coleção de diversas maneiras: da mais explícita (foto), até a mais sutil, como nos vestidinhos de couro.
Conforme as modelos pisavam na passarela, a coleção ia se amolecendo pouco a pouco. Entraram em cena as saias e blusas de tule – tão característicos do trabalho de Chiuri – sempre combinadas com flats, kitten heels ou botas com cadarço até o joelho. Ainda no quesito acessórios, ela acerta ao apostar em complementos discretos, mas nem por isso menos interessantes. Os brincos com palavras do universo Dior e a mini-choker, que praticamente todas as modelos usavam, serviam para arrematar a imagem delicada, mas não boba, que a estilista queria evocar.
Existe uma abordagem street que também só aparece em detalhes pontuais, mas ajuda a dar toques de contemporaneidade às roupas. É o caso das alças eelásticos das lingeries da grife, todas com o logo estampado no maior estilo 90’s – década que está pegando fogo na moda neste momento. Isso sem falar da profusão de calças curtas e jaquetas de couro, além das duas camisetas de algodão com os dizeres: “We should all be feminists” – “Nós todas deveríamos ser feministas” – e “Dior Revolution”. Se a mensagem não estava clara, as t-shirts cumpriram a missão de não deixar dúvidas.
Depois disso, começaram a explodir os vestidos transparentes com lindos bordados desenhados por toda a sua extensão. Eles iam de motivos angelicais ou interestelares até seu oposto: morcegos e outros desenhos mais obscuros. Maria Grazia mostra que independentemente de se vestir com roupas estruturadas, calças e armaduras, ou saias, tules e leveza, ela continua sendo uma mulher. É como se depois de lutar pela sua liberdade, no começo do desfile, a mulher Dior tivesse a chance de deixar de ser o segundo sexo de Beauvoir para se tornar sujeito de si, abraçar a sua dualidade. Enfim, ser humana. Tão humana e real quanto a voz pesada de Nina Simone ao cantar a delicada “Here Comes The Sun”, música também repleta de contrastes que serviu de trilha para o final da longa, mas precisa, apresentação da grife nesta temporada.
Fonte: Elle
Fotos: Agência Fotosite